Da arte de escrever e de lavar roupa

“Deve-se escrever da mesma maneira como as lavadeiras lá de Alagoas fazem seu ofício. Elas começam com uma primeira lavada, molham a roupa suja na beira da lagoa ou do riacho, torcem o pano, molham-no novamente, voltam a torcer. Colocam o anil, ensaboam e torcem uma, duas vezes.

Depois enxaguam, dão mais uma molhada, agora jogando a água com a mão. Batem o pano na laje ou na pedra limpa, e dão mais uma torcida e mais outra, torcem até não pingar do pano uma só gota.

Somente depois de feito tudo isso é que elas dependuram a roupa lavada na corda ou no varal, para secar. Pois quem se mete a escrever devia fazer a mesma coisa. A palavra não foi feita para enfeitar, brilhar como ouro falso; a palavra foi feita para dizer.”

Assim como o ofício das lavadeiras de Alagoas citadas por Graciliano Ramos, escrever exige trabalho, dedicação, persistência e reflexão. Desde a primeira linha escrita no papel até a chegada do texto à mão do leitor, há inúmeros desafios que precisam ser vencidos: desenhar a trama em detalhes, construir os personagens, buscar argumentos convincentes, encontrar a melhor palavra, revisar, deixar as marcas da autoria.

Texto extraído do site: https://www.recantodasletras.com.br/cronicas/970869

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